A Casa da Indústria de Ponta Grossa, que reúne entidades sindicais empresariais do município e dos Campos Gerais filiadas à Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), encerra nesta semana a série de entrevistas com os presidentes de seus Sindicatos Patronais. Para isso, foi conversado com o presidente do Sindicato da Indústria da Extração de Minerais Não Metálicos de Ponta Grossa (Sindiminerais-PG), Fábio Pires Leal, que também é vice-presidente da Federação.
De acordo com o Sindicato Patronal do segmento, o estado fornece insumos para cerca de 30 tipos diferentes de indústrias que consomem os minérios nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Estes minérios são insumos para produtos como papel, tintas, resinas plásticas, como polipropileno (PP) e PVC para uso da indústria automobilística em geral.
No setor de construção civil, o setor da mineração atua muito em tintas e massas imobiliárias, tintas industriais e em tintas moveleiras. Já o PVC é utilizado nos cabos elétricos que recobrem o cobre, por exemplo, em tubos de PVC e etc. Em quase tudo, podemos dizer que há algum produto natural, decorrente da mineração e beneficiado para diversos ramos industriais.
Os minérios mais extraídos são carbonato de cálcio, minério de talco, minérios de carbonato de cálcio e magnésio, também filitos, diopsídios, calcitas e argilas.
No Paraná, as regiões que possuem mais extrações são aquelas pertencentes ao período pré-cambriano, região entre o primeiro planalto e a Serra do Mar. Nessas regiões se concentram os minérios, principalmente as dolomitas, calcitas e filitos, talcos e etc. Nas regiões em que a agricultura predomina (regiões planas ou semi-planas), praticamente não existem minérios industriais.
O momento para o setor só não é mais favorável por contar com altos juros para a retomada de investimentos, como também espera coerência na política nacional de emprego, visando uma maior segurança jurídica para os empregadores do setor.
Como está a situação econômica hoje do setor da mineração?
A partir da metade do ano de 2022, houve uma desaceleração no setor de revestimentos cerâmicos, face a construção civil ter fases de crescimento e desaceleramento. Há 2 anos o setor de revestimentos cerâmicos estava em baixa e teve um período de crescimento acentuado, e face à instabilidade econômica desacelerou. Neste fim de ano foram desligados mais de 50% dos fornos das indústrias cerâmicas, o que ocasionou nesse período um consumo menor. E a partir de março de 2023, muitas cerâmicas voltarão a ligar seus fornos para colocar no mercado novas peças, novos desenhos de revestimento cerâmico.
O minério mais utilizado na indústria cerâmica são as argilas regionais, 60% da produção de revestimento cerâmico no Brasil é feita na região de Rio Claro, Piracicaba e outros 40% são feitos na região sul de Santa Catarina e também nas regiões nordeste e norte do país. Este setor de revestimentos cerâmicos possui preços competitivos e exporta em muitos países. As cerâmicas da região do Rio Claro (SP), conseguem trabalhar com menores custos também pela localização, próximo de jazidas regionais de argila, porém utilizam minérios de talco de São Paulo e no Paraná, localizados nos municípios de Itapeva e Itararé (SP), bem como de Sengés, Castro, Ponta Grossa (PR).
Esses minérios são vendidos em estado bruto, homogeneizados e com umidade controlada.
Os minérios de talco beneficiados por moagem e micronização, são comercializados para as indústrias de massas moveleiras, repintura automotiva, polimento de pinturas automobilísticas, pinturas industriais (estruturas metálicas), pinturas imobiliárias, esmaltes e etc. Os minérios de carbonato de cálcio micronizados são utilizados na fabricação de papéis, cartões, como incremento na estrutura do papel (filler) e na parte superior dos cartões.
Hoje, o setor agroindustrial está em pleno crescimento. Fertilizantes e adubos necessitam de uma regulagem na fórmula que é feita pelos carbonatos de cálcio e carbonato de cálcio e magnésio. O Paraná é um dos campeões no Brasil na produção de calcário, minério muito utilizado como corretivo de solos na produção de soja e cana-de-açúcar em São Paulo e Paraná e como corretivo de solo em todas as culturas.
Qual é a expectativa do setor para a mudança no governo federal?
Essa mudança de governo traz uma certa dúvida ao empresariado, por uma falta de conhecimento das mudanças que serão realizadas e as consequências aos setores produtivos empresariais, inclusive ao setor de mineração. Primeiramente, o empresariado tem grandes responsabilidades e no caso do setor da mineração, temos a ciência que o minério é base para tudo, pois quase tudo contém minério: telhas e tijolos, concreto, aço, gesso, e uma enorme quantidade de produtos industrializados.
Hoje o empresariado está sofrendo um grande problema, que é a inflação há um ano e meio. Uma inflação atuando sobre o capital de giro, alterou os juros comparados há um ano e meio atrás. Durante a pandemia, o custo do capital de giro era de 4% a 5%, que era a taxa SELIC de 2% mais o Spread do banco, que variava de 2% a 5%, que somado chegava a 4% a 6%. Atualmente, a Selic está em 13,75%, mais a taxa do banco em torno de 4%, 7%, ou seja, praticamente 20% ao ano. O juro de capital de giro está muito similar ao juro de investimentos.
Dessa forma, a taxa de juro é algo que impede o empresariado de fazer investimentos em novas máquinas e no crescimento dos negócios. A cadeia produtiva está aquecida, motivo este que ela necessita de investimentos.
A mudança de governo pode influenciar nas negociações sindicais?
Sempre tivemos uma boa relação com os sindicatos dos trabalhadores, mas tenho receio de mudanças que possam atrapalhar o trabalho, a geração de riqueza e de renda. Temos que evitar mudanças. Além disso, o empresariado entende que é um momento de insegurança jurídica devido a possibilidade de mudanças na legislação trabalhista, o que também pode complicar a relação e criação de empregos.
Em relação à questão do governo estadual, por exemplo, é o setor espera algum tipo de auxílio?
O setor de mineração é muito mais ligado ao governo federal, ou seja, ao Ministério de Minas e Energia e às Agências Nacionais de Mineração, que aqui no Paraná dá muito suporte para o minerador.
Em âmbito estadual esperamos menos impostos. Como também uma maior celeridade no que tange a questões ambientais, que costuma ser muito morosa em relação a revalidação de licenças. É um setor do governo estadual que está fazendo constantemente mudanças.
O que o setor da mineração pode esperar da Fiep?
Particularmente gosto muito da administração do Presidente Carlos Valter. É uma gestão muito séria e moderna em todos os setores. Eu sou vice-presidente da Fiep participo das reuniões constantemente e vejo que o que o industrial possui maior apoio da Fiep, junto do Sesi, Senai e IEL. Conheço a Fiep desde 2008, e vejo que a instituição está em constante evolução em relação aos tempos passados. A Fiep atua no aspecto político, técnico e em mudanças como no e-Social. Neste último, por exemplo, a mudança, atrapalhou bastante os empresários.
Todos associados aos sindicatos patronais que estão ligados ao Sesi/Senai têm total apoio da Fiep. Vemos este apoio em projetos de inovações junto as indústrias. A Casa da Indústria dos Campos Gerais deu entrada em oito projetos de inovações e seis foram aprovados.
A Casa da Indústria – Fiep veio fortalecer muito o empresariado. Nela reúne todos os sindicatos patronais, que contam com representação direta com a Federação. Isso melhora muito a atuação da própria Fiep pelo tamanho da nossa região, que vai até Sengés, divisa com o estado de São Paulo, onde o Sesi atua na saúde e segurança dos trabalhadores e o Senai em melhoras técnicas ao setor laboral e apoio inovações junto com as indústrias sindicalizadas.
O que esperar do futuro do setor da mineração na região?
No setor de mineração de minérios industriais, podemos dizer que o Paraná é o mais forte estado da Região Sul do país. O Estado do Paraná perde para São Paulo em dois setores da mineração: o primeiro é o setor de mineração de pedra britada. No Estado do Paraná, está havendo crescimento industrial como também em São Paulo. Porém, no setor de minérios industriais, nosso Paraná está dominando o sul do país, chegando a fornecer para os Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, minérios industriais de talco, carbonato de cálcio, magnésio e outros; inclusive os corretivos de solo feitos com calcários magnesianos e calciticos moídos. (Com assessoria)