*Professor Edson Armando Silva
Em primeiro lugar é necessário destacar que a nota de posição política do Partido dos Trabalhadores se dirigiu aos filiados e simpatizantes do partido, fez uma análise da conjuntura e indicou o voto na Mabel, entretanto não apontou para a existência de qualquer compromisso ou esperança de reciprocidade política, pelo contrário, se coloca na posição de quem, mesmo tendo depositado a esperança em um caminho que parecia ser de maior diálogo, se coloca a uma distância que permite a crítica e a oposição.
Neste momento político os eleitores em disputa são principalmente os eleitores de direita que votaram no Paulik no primeiro turno. Vem daí o posicionamento da candidata. Mas o medo e a emoção do discurso, tratando o Partido dos Trabalhadores como uma doença contagiosa, ofende o uso público da razão e revela que este episódio é só a ponta de um iceberg muito mais profundo e complicado.
Em primeiro lugar, os dados da realidade, vistos friamente, mostram que o PT está longe de ser o partido com mais casos de corrupção. Além disso, jogar no colo do partido as crises econômicas e sociais que castigam o país cinco anos depois que ele saiu da presidência não passa de um discurso eleitoreiro. É necessário insistir na distinção entre a Instituição “Partido dos Trabalhadores” (que representa uma visão de sociedade baseada da solidariedade) e atitudes de alguns de seus líderes. A corrupção é uma ação de pessoas, não de instituições.
O Partido dos Trabalhadores está sendo linchado não por sua visão de sociedade e por sua história, mas por uma orquestração contínua de setores da mídia, do judiciário e da política, interessados em um bode expiatório que os mantenha a salvo das críticas e do acerto de contas sobre seus próprios erros e ilegalidades. Essa é uma estratégia muito comum e, infelizmente, muito antiga. Já foi usada pelos poderosos da Roma Antiga contra os cristãos (acusados de antropofagia porque “comiam o corpo e o sangue de Cristo), pelos nazistas contra os judeus, pelos donos do poder político contra os comunistas no Brasil da ditadura.
O antipetismo é uma mistura de ignorância e intolerância, ou de má fé e oportunismo político. Apostar nessa estratégia é apostar contra a democracia, pois ela funciona impedindo a escuta, o argumento, o respeito aos dados da realidade, o diálogo, enfim, a razão. E a enchente da ignorância carrega pra longe boas ideias e alternativas, e quem perde é a coletividade.
Finalmente é necessário ter claro: quando a ignorância e a intolerância por um lado se encontram com a omissão por falta de coragem ou interesses de outro, nos colocam à beira da barbárie.
Não se enganem os que prezam a democracia: o fogo que hoje arde contra o Partido dos Trabalhadores rapidamente se estenderá contra todos os defendem os direitos humanos, a distribuição de renda e a preservação ambiental. Já há quem delire dizendo que até o papa é comunista. Num ambiente de completa irracionalidade não há mais possibilidade de argumentar, só vale a força, e pela violência justamente os mais oportunistas e corruptos voltam ao poder, porque eles já não têm necessidade de apresentar nenhum projeto de sociedade, apenas alimentar as chamas da desconfiança.
Numa atitude emocional e apolítica sería fácil decidir. Se a candidata não quer o nosso apoio, simplesmente votamos na outra. O triste é perceber que essa irracionalidade está presente nos dois lados hoje em disputa.
Na Nota que provocou toda essa discussão, o Partido dos Trabalhadores tentou trazer alguma racionalidade política na decisão de seus filiados e trouxe argumentos que continuam válidos. Entretanto é difícil fazer ver o caminho no meio a uma tempestade e preservar a racionalidade em meio a arroubos emocionais semelhantes a birras infantis.
Estamos entre a omissão através do voto nulo ou branco e duas alternativas também contaminadas pela irracionalidade da extrema direita, mas com diferentes graus de possibilidade de construção futura. Serenidade e o uso público da razão continuam sendo a única saída. Movimentos políticos orientados pela mágoa ou pelo medo costumam dar resultados ainda piores, como vimos no caso das últimas eleições presidenciais. Não estou aqui a reafirmar a indicação de voto já rechaçada, mas a pedir aos companheiros que, apesar da complexidade da situação não abandonem o uso da razão e um minucioso balanço de prós e contras na tomada da sua decisão. A negação da racionalidade política em favor de uma decisão emocional só pode nos deixar mais próximos da barbárie.
*É professor e disputou a Prefeitura de Ponta Grossa