Nesta sexta (03), o Hospital Universitário da UEPG realizou uma captação de órgãos de um doador de 24 anos. Foram doados rins, fígado, pâncreas, pulmão e valvas cardíacas. Esse é o segundo pulmão captado nos quatro anos de existência da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) no HU-UEPG.
O consentimento da família para a doação de órgãos permitiu que sete pessoas que esperam por um transplante possam ser atendidas. O pulmão foi levado via helicóptero para São Paulo e os demais órgãos foram por via terrestre para Curitiba. O procedimento foi realizado por equipes do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e do Hospital Angelina Caron, de Curitiba, com suporte das equipes do Centro Cirúrgico do HU.
Segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes, de janeiro a setembro de 2019 foram captados 72 pulmões em todo o território brasileiro. Como conta Guilherme Arcaro, coordenador da CIHDOTT do HU, esse tipo de captação é rara por uma série de motivos, como a dificuldade de encontrar doadores e receptores compatíveis, a complexidade da retirada do órgão e o curto tempo de sobrevida dos pacientes que aguardam transplantes de pulmão. No Paraná, somente um hospital está credenciado para fazer o transplante de pulmão: o Hospital Angelina Caron, em Curitiba, que realizou seu primeiro transplante em dezembro de 2019.
Como funciona o protocolo de doação de órgãos e tecidos dentro do Hospital?
O processo é composto por muitas etapas: desde o momento em que se detecta a possibilidade de morte encefálica em um paciente até a efetivação de um transplante de órgãos, são diversos profissionais envolvidos e uma série de decisões tomadas com responsabilidade e respeito. Morte encefálica é nome legal dado ao óbito de um paciente: é a interrupção irreversível das atividades cerebrais.
De acordo com as orientações da Secretaria de Saúde do Paraná, é preciso que a avaliação da morte encefálica seja feita por dois médicos de diferentes áreas, por meio de um complexo protocolo de exames clínicos e exames complementares. O intuito destes procedimentos é eliminar as dúvidas no processo e comprovar que, realmente, não há mais nenhuma atividade cerebral.
“A prioridade do atendimento da equipe do HU, desde o momento em que há a possibilidade de morte encefálica, é de manter um diálogo transparente com a família”, conta Guilherme. Essa preocupação é reiterada pela assistente social Inês Chuy Lopes, que faz parte da equipe multidisciplinar que atende às famílias dos pacientes. Ela assinala que o foco primordial é o acolhimento, tanto dos pacientes quanto de suas famílias, e o acompanhamento da situação psicológica e social destes acompanhantes.
Quando se confirma a morte encefálica, o primeiro passo tomado pela equipe é garantir que haja um entendimento por parte dos familiares do que significa a morte cerebral e uma compreensão da situação. É só depois de garantir o controle emocional que se oferece a possibilidade de ajudar outras pessoas por meio da doação de órgãos.
Há um cuidado especial na forma de tratar o assunto, de acordo com o coordenador da CIHDOTT: “São utilizadas técnicas para a abordagem da família, oferecendo sempre o apoio emocional e explicando de forma clara como funciona o processo de doação. Buscamos tirar as dúvidas e superar preconceitos que são comuns quando se trata deste assunto”, explica.
Doação de órgãos: é preciso falar sobre isso
A doação de órgãos é uma decisão que, mesmo tomada em meio à dor da perda de um familiar, salva vidas e se traduz em um ato de amor. “Saber que ao menos uma parte de seu ente querido pode continuar a viver e dar vida a outra pessoa faz com que a grande maioria das famílias que optam pela doação de órgãos saia consolada, de certa forma”, explica Ines, assistente social do HU.
Todo paciente de hospital que esteja em morte encefálica é um potencial doador. Segundo a Central Estadual de Transplantes, são contraindicações para a doação de órgãos e tecidos as doenças infectocontagiosas, câncer e infecções graves. No caso de infecções que estejam respondendo a tratamento, é possível doar.
Cada doador pode salvar várias vidas: pode-se doar córneas, coração, fígado, pulmão, rim, pâncreas, ossos, vasos sanguíneos, pele, tendões e cartilagem. Como conta Guilherme, a determinação de quais órgãos podem ser doados é através de uma avaliação clínica de viabilidade. “Além disso, há um respeito ao prazo máximo pedido pela família para liberação do corpo: órgãos como pele e ossos precisam de mais tempo para retirada”, complementa. (Com assessoria)
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