O Partido dos Trabalhadores (PT) ocupou o comando da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa entre 2001 e 2004 durante o mandato de Péricles de Mello. Nos anos seguintes, o PT variou entre participações tímidas nos pleitos seguintes e aparições de maior destaque, como em 2012. Em 2020, duas décadas após o início do primeiro mandato de Péricles, o partido lança o professor Edson Armando como pré-candidato ao Palácio da Ronda.
Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Edson é figura conhecida no cenário político local. Em 2016, Armando já trabalhou na articulação do partido na procura por vagas no Legislativo Municipal. Nesta sexta-feira (14), Armando participou de uma sabatina com o jornalista Eduardo Farias, na série com pré-candidatos à Prefeitura, dentro do programa Doc.com na Rede, uma parceria entre o portal aRede, Jornal da Manhã e o blogdodoc.com. Acompanhe os detalhes em seguida:
Eduardo Farias: Qual é a ideia do PT para as eleições municipais deste ano?
Edson Armando: O PT quer discutir a cidade. O partido quer demonstrar duas coisas: Quando esteve na prefeitura, o PT significou uma mudança qualitativa em governos anteriores, e muito dos nossos trabalhos, beneficiam pessoas da cidade até hoje. E, em segundo lugar, demonstrar que a política geral/nacional do PT trouxe inúmeros benefícios para Ponta Grossa. Como por exemplo 18 mil unidades do Minha Casa Minha Vida, sendo 12 mil para famílias de baixa renda. O que seria de Ponta Grossa, neste período de pandemia e isolamento social hoje, sem essas iniciativas? A ação do BNDS para o desenvolvimento regional, beneficiando pequenas e médias empresas. Muitos empresários de PG tiveram seus projetos alavancados pela política de financiamento e desenvolvimento do BNDS. Eu acho que essa maneira de governar, e esse olhar para a cidade, necessariamente um olhar para a população, como pequenos e médios empresários e a comunidade, é a proposta de discussão da cidade que queremos fazer nessa eleição.
EF: Como o senhor fará para chegar no eleitorado neste momento de divisão direita e esquerda? Ainda mais que o PT está envolvido neste processo de polarização. Como fazer essa aproximação diante do fato do eleitorado de PG ter um perfil “conservador”?
Edson: Todo mundo fala do eleitorado de PG é conservador e de fato ele é. Toda sociedade tem sua facção conservadora. Mas, as periferias e bairros de PG já elegeram o PT. Elegeram o Jocelito que não era participante da elite em um determinado momento. Eu acho que a população de sendo bem informada, pois a boa informação é pressuposto da democracia. E me parece que o PT foi alvo de fato de fake news, articulada internacionalmente, como o Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Inglaterra e o Bolsonaro aqui no Brasil. Foi um movimento de produção de mentiras. De repente o filho do Lula virou dono da Friboi, a filha do Lula a dona da Havan, o Lula aposentado por causa do dedo. Quando existe o monopólio das comunicações há produção de mentiras, isso dificulta a tomada de boas decisões por parte das pessoas. Quando a população é confrontada com a verdade, o posicionamento muda.
EF: Antes havia uma reunião da esquerda no cenário político em período de eleições. E nessas eleições existe uma divisão por parte da esquerda. Ao que se deve esta divisão?
Edson: Nós vivemos um momento novo, com regras novas na política. Houve um tempo que poderia fazer coligações com as proporcionais. Hoje cada um dos partidos tem como objetivo fazer suas candidaturas. Isso faz com que cada um siga suas próprias estratégias. Você tem um cenário forte para a disputa da majoritária e tem outro cenário em que você apresenta os projetos para a cidade, mas o objetivo estratégico é apenas avançar no cenário político ponta-grossense, buscando uma, duas ou três cadeiras na Câmara Municipal. Em função disso, de ter uma candidatura para uma eleição majoritária, facilitam-se as candidaturas proporcionais. Acho que esse é o elemento que dificulta os partidos de esquerda se unirem em torno de um nome só.
EF: Como esta organização da chapa do PT para as eleições municipais? O nome do Péricles é cogitado já que ele é uma referência no partido?
Edson: Nós teremos uma chapa completa. Hoje temos mais pré-candidatos do que vagas em disputas. Temos também uma chapa de mulheres muito bem organizadas. O partido não precisou correr atrás das mulheres, elas que correram até nós para se candidatarem pelo PT. Temos uma chapa com excelentes candidatos, como Geverson que já foi candidato a prefeito e também foi presidente da Câmara Municipal, temos também o Zico e vários outros candidatos com apoios sindicais muito representativos. Já o Péricles, é o “craque” do nosso partido. Seria muito bom ele como pré-candidato. O Péricles é engenheiro, mestre em planejamento urbano, conhece a cidade como pouca gente. Ele reuniu em torno de si pessoas experientes academicamente. Atualmente ele está na Coordenação do Plano de Governo de nossa campanha.
EF: O que será apresentado neste Plano de Governo que vocês estão fazendo?
Edson: Existem elementos essenciais que tocam todas as partes e problemas do município. Se formos discutir saúde, educação iríamos passar horas. O que existe é uma proposta de gestão. Uma gestão participativa e matricial. Que significa uma gestão por projetos e não liderado de secretaria a secretaria. Porque quando eu faço uma definição temática e disciplinar, eu tenho recursos que possivelmente serão desperdiçados. Quando eu faço uma gestão matricial, recursos que sobram numa secretaria, podem ser auxiliares aos objetivos de outra secretaria. Essa vai ser a nossa gestão, que abra possibilidade para participação das pessoas. Mesmo via aplicativos, porque vivemos um momento diferente do que aquela vez (2001-2004), pois os recursos tecnológicos são outros. Temos que ter a consciência de que a Prefeitura não pode tudo, mas pode muito em cima de um projeto social mais amplo. Essa consciência é a base de nosso governo. Outra coisa é conhecer a cidade e isso nós conhecemos bem e temos proposta para cada elemento de Ponta Grossa.
EF: Como fazer para resolver o problema da Geração de Emprego em nossa cidade?
Edson: Esse elemento é nosso centro. A Prefeitura pode estimular o emprego. PG tem uma desestruturação histórica. Porque a cidade foi ampliando a periferia em vez de aproveitar bem os recursos do interior? Hoje temos uma periferia densa popularmente e com uma população jovem. E necessário gerar emprego e renda lá. Participação pequena da agricultura familiar, da agricultura orgânica, entre outros. Uma zona verde ao redor da zona urbana poderia gerar trabalho e renda. Você pode integrar com a agro indústria familiar. Rede de comercialização solidária ligando o campo e a cidade, poderia ser revolucionário, gerando emprego e renda. É um potencial quase nada explorado em nossa cidade. Queremos fazer parceria entre prefeituras e universidades, estimulando o conhecimento da realidade e estimulando o desenvolvimento de emprego e renda. Podemos ter uma oportunidade que esse conhecimento produz uma nova cadeia produtiva que se localizasse nas áreas periféricas da cidade. Geradora de emprego em renda, sem a Prefeitura utilizar de seu orçamento para isso. Pensamos ainda em um espaço de Universidade Solidária, fazendo um bom diagnóstico da cidade. Na universidade temos capacidade de produzir o novo de sobra. A Prefeitura deve abrir a essas oportunidades e cria essas possibilidades para a universidade veja a realidade local.
EF: Temos 9 mil servidores aproximadamente. Como uma administração do PT pretende lidar com a situação dos servidores públicos? Alguns falam em terceirizar e outras abordagens. Qual é o posicionamento do partido?
Edson: Em setores essenciais eu não sou a favor da terceirização. Você tem uma responsabilização. O trabalhador terceirizado não tem esse compromisso. Ele fez, você pagou e está tudo feito. Na saúde por exemplo não pode fazer isso. É necessário ter consciência do que estão fazendo e a consequência disso. Na época nós tínhamos cinco mil funcionários públicos (2001-2004). Eu vejo o funcionário público como um patrimônio e não como despesa. Nós temos uma proposta, nós vamos ocupar 50% de cargos comissionados, com servidores de carreira. Não é apenas para diminuir a despesa da folha, mas sim explorar o conhecimento que está no funcionalismo público. Esses servidores têm uma opinião e um conhecimento da cidade. Esse conhecimento tem que ser incorporado na administração municipal.
EF: Em 2022 o transporte público tem a possibilidade de uma nova concessão? Como resolver essa questão?
Edson: O Transporte Coletivo deve ser visto mais amplamente. Pensar como as pessoas se locomovem na cidade, levando em consideração também que temos os aplicativos de transporte individual. O transporte público continua sendo muito importante e acho possível que o transporte pode ser totalmente gratuito. E acho possível sendo gratuito, não apenas como foi proposto: para trabalhadores com carteira registrada, onde o empresário paga uma parte e o trabalhador paga a outra parte. Pois isso é uma imposição compulsória. É possível integrar os recursos existente através de um fundo, além também que essa discussão não é só de PG, mas existem discussões a nível estadual e nacional e você pode optar por um transporte público de qualidade e gratuito. Isso ameniza a pobreza. Ainda mais em Ponta Grossa que tem uma periferia alargada, que necessita de um transporte púbico eficiente e de preferência gratuito. Então a nossa cidade, mais do que outros centros, precisa de um transporte público gratuito e de qualidade é fator de distribuição de renda e ajuda aos trabalhadores.
Assista a entrevista na íntegra: