A tentativa de manipulação do debate público e a disseminação de notícias falsas (fake news) nas redes sociais são fenômenos que atingirão escala jamais vista nas eleições de 2018 no Brasil e devem ser monitorados pelo Estado, segundo o pesquisador Marco Aurélio Ruediger. Responsável pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP) e coordenador da pesquisa “Robôs, Redes Sociais e Política no Brasil”, Ruediger afirma que as redes sociais serão um campo de batalha e os robôs – programas usados para multiplicar mensagens na internet – terão presença significativa na discussão eleitoral. As informações são da Revista IstoÉ.
Na pesquisa, ele verificou seis momentos-chave na política brasileira – como o primeiro turno das eleições de 2014 e a aprovação da reforma trabalhista no Senado – e constatou que a cada quatro segundos um robô enviou uma mensagem nas redes sociais.
Qual é a conclusão do estudo?
A primeira importância é o quanto se consegue distorcer opiniões e orientar debates para além do que seria o espírito cívico e republicano. Ou seja: a construção de agendas e a deformação dos debates sobre essas agendas dentro desses meios. A outra é: quem no país se utiliza mais disso ou quem se favorece desses robôs? E fora do país? Existem robôs que favorecem agendas que interessam à política brasileira? As respostas são extremamente importantes.
Qual o peso que as redes sociais terão na próxima eleição?
Não tenho dúvida de que será muito maior. Mais pessoas utilizam redes sociais do que há quatro anos. As campanhas de rua ficaram muito caras e com poucos financiadores. Então, as redes se tornam atraentes porque o custo, em geral, é mais baixo. O problema é que será um “tiroteio” de vários lados, porque é frequente o uso das mídias sociais para deformar o debate público e todos os campos ideológicos usam esse tipo de instrumento. É disseminado no mundo da política e agora vai ser potencializado.
TSE, Ministério da Defesa e Abin traçam ações para barrar fake news. Como vê a iniciativa?
É necessário que o Estado brasileiro entenda que o monitoramento se tornará uma ação necessária e constante. Em algum momento, terá de haver uma regulação, uma construção legal mais avançada e, claro, que respeite o Marco Civil da Internet. Não se pode achar que só aconteceu na eleição. Essa hipótese nós já derrubamos. É o tempo inteiro e não é só na política, mas também na economia.