A vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, colocou o retorno do horário de verão no radar das redes sociais. O mecanismo, que garante uma hora diária a mais de luz solar, foi suspensa no primeiro ano de gestão do atual presidente Jair Bolsonaro, afetando diretamente o desempenho econômico de áreas turísticas no litoral e em estabelecimentos de lazer e gastronomia nos centros urbanos.
A volta do horário de verão é uma das bandeiras da Confederação Nacional de Turismo (CNTur) e Federação Paranaense de Turismo (Feturismo) e entidades filiadas, como a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) e obteve apoio de outras categorias, incluindo empresários do comércio.
"Agradecemos a sinalização do presidente eleito que estuda a retomada, isto nos ajuda muito", disse Fábio Aguayo, representante das organizações. A volta do mecanismo criado na década de 1930 para economizar o consumo de energia ao final do dia ganhou destaque após o presidente eleito publicar uma enquete na rede social Twitter.
Em poucas horas no ar, mais de 1,2 milhão de internautas votaram, sendo que mais de 70% se posicionou favorável a volta do horário de verão. O estudo foi publicado pelo futuro chefe da nação após um apelo do ator Bruno Gagliasso ao vice-presidente eleito Geeraldo Alckmin. "Temos estudos mostrando as vantagens diante de uma crise energética mundial", disse Aguayo.
Fatores positivos
Segundo o diretor da CNTur, são vários fatores positivos que indicam a necessidade não só de trabalhar na economia, mas na conscientização da racionalização do consumo de energia elétrica. "O horário de verão tem este poder de transformação e é isto que queremos que as pessoas entendam".
"Não como uma questão ideológica, mas uma questão de razoabilidade, de racionalidade. O ser humano precisa entender e compartilhar isto com os outros, não porque só atrapalha o organismo. É um período curto, veja o Paraguai, mesmo não tendo todo o consumo de energia disponível, faz deste mecanismo um instrumento positivo", completou.
Contexto
O horário de verão foi instituído no Brasil na gestão de Getúlio Vargas, em 1931 e 1932, mas só passou a ser adotado sem interrupções em 1985. A medida foi criada para aproveitar a iluminação natural nos dias mais longos para poupar energia e reduzir o risco de apagões.
Logo após o atual presidente anunciar o fim mecanismo, em 2019, as entidades se uniram para cobrar a manutenção e em seguida sua volta. A iniciativa iria permitir, além de um horário a mais de lazer para as pessoas, a possibilidade de maior renda de estabelecimento do setor em áreas turísticas e nos centros gastronômicos.
Economia
"A volta do horário de verão permitiria uma recuperação mais rápida do nosso setor, afetado diretamente pela pandemia da covid-19", lembra Aguayo. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil economizou pelo menos R$ 1,4 bilhão desde 2010 por adotar o mecanismo, com redução média de 0,5% no consumo de energia e 4,5% no horário de pico.
Os números do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que, entre 2010 e 2014, o aproveitamento da luz do sol resultou em economia de R$ 835 milhões para os consumidores, principalmente devido à redução da necessidade do uso de termelétricas (de operação mais cara).
Vantagens
Para o especialista em infraestrutura Claudio Frischtak, uma hora a mais de luminosidade reduz os riscos de "homicídios, roubos e acidentes de trânsito". Estudo de 2016, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mostrou que a ocorrência queda de 10% nas rodovias federais no número de acidentes entre 2007 e 2013.
Entre as vantagens do horário de verão, a hora adicional de sol estimula as pessoas a ficarem mais tempo nas ruas, com impactos positivos no trânsito, transportes públicos e segurança pública. "Sem contar a possiblidade de fazer exercícios físicos ao fim da tarde e aproveitar melhor o espaço público", completa o dirigente das entidades. (Com assessoria)
Foto: Ronildo Pimentel