Em sessão pública de salvaguarda de bens imateriais, a primeira já realizada em Ponta Grossa, na noite de segunda-feira (8), o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac) reconheceu oficialmente a Banda Lyra dos Campos, o Artesanato em Palha e a Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal como patrimônios imateriais da cidade.
“A sessão pública de salvaguarda de bens imateriais foi um momento histórico, por ser a primeira a reconhecer oficialmente patrimônios imateriais de Ponta Grossa. Com a deliberação do Compac pelo registro de três patrimônios imateriais, o Município e a comunidade firmam o compromisso de manutenção destas expressões, ou seja, garantirão que perpetuarão enquanto ação, enquanto imaterialidade, enquanto manifestação cultural da cidade”, afirma o secretário municipal de Cultura, Alberto Portugal, ressaltando que esta foi a primeira vez que o conselho abriu a discussão sobre bens que não sejam prédios históricos e bens materiais.
A sessão contou com a presença de 16 conselheiros (do total de 21), e teve com unanimidade o parecer favorável para a Banda Lyra e a Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal, e teve 14 votos favoráveis para o Artesanato em Palha.
Segundo Portugal, a Secretaria Municipal de Cultura já está desenvolvendo projetos para valorização destas expressões, a exemplo do projeto Raízes Culturais que será lançado em outubro. A Escolinha do Patrimônio Cultural tem discutido em seus encontros a importância da preservação de símbolos da cidade, e difundido os saberes das três expressões, além de manter a Banda Lyra dos Campos.
A sessão de salvaguarda integra a Semana do Patrimônio Cultural, organizada pela Secretaria Municipal de Cultura. O evento, que iniciou segunda-feira, vai até sexta-feira (12), com o tema ‘Ensinar, sensibilizar e preservar’. Com a sessão de salvaguarda, aconteceu também a entrega do Prêmio Guardiões do Patrimônio-Preservadores, no Cine-Teatro Ópera.
Programação
A Semana do Patrimônio Cultural conta com uma série de atividades, com objetivo de chamar a atenção para a importância de preservar o patrimônio cultural da cidade. Entre as atividades está a exposição ‘Registros da cidade de Ponta Grossa: corpo e alma’, na Unidade Cultural do Ponto Azul, que pode ser visitada até o dia 31 de agosto. Durante todos os dias da semana, acontece visita guiada na Mansão Villa Hilda, em que os visitantes poderão participar da Escolinha do Patrimônio e conhecer o Sótão do Fantasma. Diariamente, há ainda um cronograma de passeio por pontos históricos da cidade com alunos da rede estadual de ensino.
Oficinas iniciam nesta quarta (10)
A Secretaria promove ainda uma série de oficinas gratuitas, que serão ministradas por Melina Pissolato Moreira, um dos maiores nomes da educação patrimonial no Brasil. Os encontros serão no auditório do Centro de Música. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio de formulário on-line.
No dia 10, das 13 às 15 horas, o tema da oficina será ‘Educação patrimonial e gestações públicas', direcionada a gestores culturais (inscrições no LINK). No dia 11, das 19 às 21 horas, o tema da oficina será ‘Educação Patrimonial: introdução a conceitos e práticas’, direcionada a estudantes de graduação na área de História, Turismo, Artes Visuais, Arquitetura e Urbanismo, Pedagogia e Comunicação (inscrições no LINK). E, no dia 12, com o tema ‘Educação Patrimonial: reflexões e práticas’, das 14 às 16 horas, a oficina será voltada a professores da rede municipal de ensino de Ponta Grossa.
Histórico dos bens imateriais:
Banda Lyra dos Campos
A Banda Lyra dos Campos originou-se em 1952 no subsolo da Prefeitura; o maestro Paulino foi um dos idealizadores e criadores do projeto Banda Escola Lyra dos Campos. O objetivo é promover apresentações para a comunidade e ensinar jovens de todas as classes sociais, visando passar conhecimento para seus alunos tornando-os músicos profissionais. Mantida pela Prefeitura de Ponta Grossa e administrada pela Secretaria Municipal de Cultura, a Banda Lyra realiza diversas ações durante o ano, como concertos em teatros, praças e escolas, além de estar presente nas principais inaugurações realizadas pelo poder público.
Artesanato em Palha
Desde o início da história do artesanato ponta-grossense enquanto manifestação cultural local, o artesanato em palha é produzido. Através de técnicas de amarração, de tingimento e da assemblage, a palha especial de milho dá forma a diversos bonecos que referenciam figuras locais, como tropeiros, santinhos e a típica gralha azul do Paraná. Como forma de manter viva a técnica centenária, artesãos da Casa do Artesão, através do projeto Raízes Culturais preservam a prática, discutindo e produzindo os artefatos. A origem do artesanato em palha é atribuída à soma de conhecimentos dos povos indígenas e dos tropeiros, ambos povos com domínio da cestaria e da tecelagem com fibras naturais.
Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal
Corina Portugal nasceu em 1869 na cidade do Rio de Janeiro numa família abastada da então capital do Império do Brasil. Na adolescência encontrou Alfredo Marques de Campo, um farmacêutico bem mais velho que ela por quem se apaixonou e casou. O casamento foi em regime de separação de bens, devido às grandes posses que a família Portugal detinha. Este fato foi para Alfredo uma ofensa grande por parte de seu sogro, já que ele nada possuía de bens materiais. Depois de casados, viveram algum tempo no Rio de Janeiro e, em seguida, mudaram-se para Ponta Grossa, vivendo em uma casa alugada nas proximidades da atual Catedral Sant’Ana.
Alfredo abriu uma botica em que eram manipulados diversos medicamentos. Apesar de recém-casados, Alfredo passou a frequentar prostíbulos em Ponta Grossa e Castro, onde além de exceder em bebidas alcoólicas perdia altas somas em dinheiro em jogos de carteado. Ele passa a acusar verbalmente e a agredir a esposa pelas condições financeiras que viviam.
O jogo fez com que Alfredo perdesse a farmácia. Ao chegar à residência, atacou Corina com 32 facadas, matando-a, no dia 26 de abril de 1889. Ele procurou então o advogado Vicente Machado alegando que tinha lavado sua honra com sangue porque sua esposa o havia traído com o médico João Dória. Foi levado a julgamento e absolvido, mudando-se para Minas Gerais, local em que anos mais tarde acabou se suicidando. Nessa época, já tinha sido provada a inocência de Corina e o crime passou a provocar repulsa na sociedade ponta-grossense.
Tempos depois, começaram as romarias ao túmulo de Corina que, segundo seus devotos, atende aos pedidos de desespero de mulheres que sofrem violência por parte de seus maridos, bem como outras situações de desalento e angústia. Hoje, o túmulo de Corina é o mais visitado no Cemitério São José, e ela é considerada a santa popular dos Campos Gerais. (Com assessoria)