Policiais, treinamentos, equipamentos, tecnologia e inteligência. Muita inteligência. É essa a equação que norteia o planejamento estratégico das forças de segurança do Paraná. Por isso, dois projetos já em desenvolvimento pela Secretaria da Segurança Pública (Sesp) prometem transformar a fiscalização, monitoramento e repressão no Estado, fazendo da Inteligência Artificial (IA) uma das principais aliadas contra o crime organizado.
Lançado neste ano, o projeto Olho Vivo visa fortalecer e modernizar a estrutura através da implementação e aplicação do sistema de integração de videomonitoramento por câmeras de segurança em batalhões da Polícia Militar do Paraná (PMPR). Já o Projeto Falcão, oficializado nesta quarta-feira (29) pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, em cerimônia na Academia do Guatupê, aposta na utilização de drones e aeronaves tripuladas para garantir suporte aéreo às equipes policiais em terra. O investimento do Governo do Estado nos dois é de R$ 61,4 milhões.
“As diretrizes para se ter uma segurança pública de qualidade são a presença física do policial na rua e muita tecnologia e inteligência. Por isso essa modernização, esse crescimento da estrutura disponibilizada para a Segurança Pública. São viaturas, helicópteros, drones e o que existir de alta tecnologia para garantir o bem-estar dos paranaenses”, afirmou o governador. “É uma repaginação de investimentos para mudar a história da Segurança Pública do Paraná”.
O Paraná ganha mais recursos tecnológicos e mobilidade por meio do Projeto Falcão. São helicópteros equipados com sistemas de última geração e mais seis drones a serviço das tropas de segurança. “O Falcão é um projeto inovador. Teremos a primeira e única polícia da América Latina a ter aeronaves equipadas com essa tecnologia. Ainda aguardamos a chegada de helicópteros dos Estados Unidos, prevista para setembro, e então teremos toda a estrutura desse projeto em pleno funcionamento”, completou o governador.
As aeronaves e todos os equipamentos de Inteligência Artificial embarcada são alugadas, ao custo de R$ 17 milhões por ano, confirmadas por licitação pública. Estão em fase final de montagem e serão incorporadas ao dia a dia da Polícia Militar neste segundo semestre. Terão como bases Curitiba e Cascavel, mas apenas como pontos de referência.
Cada helicóptero terá espaço para até três tripulantes. Contará com câmera HD termal (permite distinguir a temperatura de pessoas e objetos) já com sistemas operacionais especializados que possibilitam o acompanhamento de alvos, geolocalização com o banco de dados completo do Paraná, ferramentas para identificar e delimitar áreas desmatadas com sobreposição de imagens e misturas e adaptações de luminosidade como forma de melhorar as imagens.
Além disso, possuem farol de busca, filtro para operar com óculos de visão noturna, alto-falante externo e streaming para transmissão em tempo real via 4G ou micro-ondas. Por contrato, a atualização tecnológica precisa ocorrer a cada dois anos.
“É algo pioneiro, não existe nada igual no Brasil ou na América do Sul, baseado com aeronaves de baixo custo de aquisição e manutenção, mas com muita tecnologia embarcada. Logo que o governador Ratinho Junior assumiu, em 2019, fomos aos Estados Unidos para ver o que tinha de melhor em tecnologia e implantar no Paraná. Chegamos ao Projeto Falcão, que será um divisor de águas na segurança pública, um exemplo para o País”, disse o coronel Júlio César Pucci, comandante do Batalhão de Operações Aéreas (BPMOA) da PMPR e responsável pelo projeto.
“Optamos pelo aluguel para poder ter atualização tecnológica rápida e não deixar nenhum elefante branco para o Estado”, completou.
Ele explicou que sete militares também já foram formados para poder operar as aeronaves. Outros dois começaram o curso, com duração de seis meses, neste primeiro semestre. A intenção é chegar a 20 profissionais. Um drone com farol de luminosidade e alto-falante, adquirido por meio de convênio com o Instituto Água e Terra (IAT), também está em operação. Outros cinco em processo de licitação para serem comprados. Cada aparelho custa em média R$ 400 mil.
“Nos garante muita autonomia. Drones fazem menos barulhos e podem chegar mais rápidos, por exemplo. Já o helicópteros são completos e podem mapear o Paraná de ponta a ponta, de uma maneira muito ágil”, disse o comandante. “É a estratégia adequada para essas novas modalidades de crimes, como o novo cangaço e o cerco à transportadora de valores de Guarapuava”.
Olho Vivo
No Olho Vivo o investimento é de R$ 42 milhões. Como o próprio nome da proposta deixa claro, a intenção é espalhar olhos eletrônicos pelo Paraná, coordenados por grandes bases de operação da PMPR instaladas em 29 regiões diferentes do Estado, o que abrange cerca de 65% da população do Estado. Entre outros avanços, a tecnologia vai permitir o reconhecimento facial para a identificação de bandidos e a leitura da placa de veículos, facilitando a busca por carros roubados.
“Essa interligação de 29 centrais de monitoramento com inteligência artificial embarcada são essenciais para a redução dos indicadores de violência. Dará mais capacidade de organização, fiscalização e atuação para a PM, bem como de investigação para a Polícia Civil, além de colaborar com os setores de inteligência das forças de segurança da Secretaria da Segurança Pública. O cruzamento de informações permite emitir vários alertas, facilitando as investigações e a atualização do planejamento estratégico”, explicou o secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita.
Até o momento estão funcionando mais de 2 mil sensores e câmeras espalhados pelos 29 municípios, todos integrados por meio de convênios de cooperação técnica e atuação conjunta. Do total, 251 câmeras são de parcerias estaduais; 635, federais; e a ampla maioria, 1.183, entre Secretaria estadual da Segurança e municípios.
A ferramenta, desenvolvida pela Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico e Qualidade – Seção de Telecomunicações da Polícia Militar, em parceria com a Celepar, conta com três diferentes mapas. O primeiro mostra a localização de cada uma das câmeras, o segundo é um mapa de calor, que apresenta o fluxo de veículos; já o terceiro apresenta a captura de informações (placas de veículos, cor e chassi, por exemplo).
Através da inteligência artificial do sistema, os dados auxiliam na recuperação de veículos roubados ou furtados e no cumprimento de mandados de prisão, entre outras questões.
A partir disso, a atuação policial se torna mais ágil e eficiente, se refletindo em um acréscimo de segurança para a população. “Os centros que integram o Olho Vivo foram escolhidos de forma estratégica. O conceito é o monitoramento por câmeras e sensores, com reconhecimento facial e inteligência artificial, que vão identificar indivíduos que possivelmente tenham mandado de prisão”, destacou o comandante-geral da PMPR, coronel Hudson Leôncio Teixeira.
As informações obtidas pelos equipamentos são automaticamente enviadas ao sistema da Polícia Militar, que repassa às equipes que estão em operação. “Se um veículo com alerta de furto estiver em uma área próxima a um policial militar, ele será avisado e poderá se preparar para a abordagem”, acrescentou o comandante-geral.
Além disso, lembrou o coronel, a inteligência da corporação usará os dados para melhor planejamento de ações, evitando a ocorrência de novos delitos. “Com o Olho Vivo a tendência é a redução de crimes, uma vez que os criminosos saberão que são monitorados e a população saberá que tem esta ferramenta à sua disposição”, afirmou.
Ainda durante a fase de testes, realizado nos cinco primeiros meses de 2022, a corporação já localizou mais de 100 veículos furtados ou roubados. “A eficiência se mostra em um outro dado: somente no primeiro dia de funcionamento em Guarapuava, recuperamos dois carros”, contou o responsável pelo sistema na Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico e Qualidade, capitão Eduil Nascimento Junior.
Em outra etapa, os dados são encaminhados aos setores de inteligência e investigação da Polícia Civil, que terão acesso a rotas e tráfego de veículos e pessoas, o que agilizará a elucidação de casos e a busca por procurados.
Neste primeiro momento, Curitiba e Região Metropolitana serão contempladas com cinco salas, uma por batalhão. Em seguida, serão instaladas outras oito: em São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Araucária, Campo Largo, Colombo, Campina Grande do Sul e mais sete em Curitiba.
Para o Litoral estão previstos três centros: Paranaguá, Pontal do Paraná e Guaratuba. Nos Campos Gerais, mais três: Ponta Grossa, Guarapuava e Irati. Noroeste, Norte e Norte Pioneiro receberão mais outros seis, a serem instalados em Maringá, Apucarana, Umuarama, Campo Mourão, Paranavaí, Arapongas e dois em Londrina. As regiões Oeste e Sudoeste, por sua vez, serão contempladas com quatro centros: Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Francisco Beltrão. (Com assessoria)