Acessar a BR 277 ou fazer o retorno no km 104 era um transtorno aos motoristas e aos moradores do Jardim Guarany, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. A passagem em nível até então utilizada para fazer as manobras atrasava o trânsito e não garantia a segurança em um dos trechos mais movimentados e mais perigosos da rodovia.
Essa realidade começa a mudar, com a conclusão de um complexo rodoviário que conta com um viaduto do tipo ferradura, dois quilômetros de pistas marginais e uma nova rotatória, facilitando a circulação em uma das principais ligações rodoviárias do Estado. A obra foi inaugurada oficialmente nesta quarta-feira (14) pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior.
O viaduto, que leva o nome do soldado da Polícia Militar do Paraná Lucas Liça, morto em um acidente no local em 2015, faz parte de um acordo de leniência firmado entre a concessionária CCR Rodonorte e o Ministério Público Federal (MPF). Executada em 11 meses, a obra recebeu investimentos de R$ 17,9 milhões e é a segunda inaugurada em Campo Largo neste ano.
Ratinho Junior destacou que a escolha dos projetos que entrariam no acordo de leniência foi feita pelo Governo do Estado, com base nas informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre os trechos onde mais ocorriam acidentes.
“Há muitos anos a população pedia por essa obra porque muitas vidas foram perdidas nesse local. Os moradores do Jardim Guarany usavam uma passagem plana para cruzar a rodovia, ocorrendo muitos acidentes”, explicou.
“Além de salvar muitas vidas, o viaduto vai integrar o bairro e permitir novos investimentos em Campo Largo”, destacou o governador. “Muitas empresas que gostariam de se instalar nesse trecho da rodovia, que é estratégico, próximo a Curitiba e de fácil acesso a outras regiões, acabavam evitando porque a entrada e saída de caminhões era muito perigosa e arriscada. A partir de agora isso muda e uma nova área industrial pode ser criada na cidade”.
O prefeito Maurício Rivabem confirmou a possibilidade de atração de novos investimentos na região graças às melhorias na rodovia.
“Há décadas a população dessa região pleiteava por essas obras, principalmente por questões de segurança, mas também será importante para o nosso crescimento”, disse. “Coisas novas virão para a cidade, já está confirmada a construção de um condomínio Alphaville e novas indústrias que vão gerar emprego para Campo Largo”.
Acesso
Com a liberação da nova interseção, todos os acessos e saídas dos veículos que estão na região do Jardim Guarany serão feitos em desnível, como também os retornos entre os dois sentidos da BR-277 no local. As duas vias marginais, em ambos os lados da rodovia, operam em mão dupla na maior parte da extensão.
Para adequar os acessos das vias que confluem à BR, foi construída uma rotatória na marginal norte da rodovia, que vai disciplinar os fluxos de tráfego dos veículos que utilizam o retorno, a marginal e que acessam a Rua Vicente Nalepa, em direção à Vila Dom Pedro II.
A diretora-presidente da CCR Rodonorte, Thais Caroline Labre, explicou que a obra foi executada em tempo recorde, sem a interrupção do fluxo. Cerca de 60 mil veículos trafegam pelo trecho diariamente. “Houve muito planejamento para fazer tudo isso em um ano de pandemia”, disse.
Cerca de 150 profissionais trabalharam nas obras da nova interseção. As equipes retiraram mais de 26 mil metros cúbicos de terras nas escavações, além da execução e instalação de 945 metros em barreiras de concreto, 288 estacas de concreto, 5,4 mil toneladas em materiais para pavimentação asfáltica, pouco mais de dois quilômetros de pintura e sinalização horizontal, além do lançamento de 12 vigas de 19,8 metros de comprimento e peso estimado em 17 toneladas cada.
Outras obras
O secretário estadual da Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, ressaltou que esta é uma entre diversas obras de infraestrutura que estão sendo executadas no Paraná, tanto com investimentos próprios do Governo do Estado, como em parceria com o governo federal, Itaipu Binacional e pelas concessionárias.
“É uma obra estratégica de mobilidade para quem mora em Campo Largo e para quem circula pela BR-277. Temos que compatibilizar o fluxo dos 60 mil veículos que circulam por dia, com as necessidades de quem vive aqui”, disse o secretário. “O Governo do Paraná, em conjunto com a PRF, fez as escolhas das obras priorizando a vida, determinando os locais onde tínhamos o maior número de acidentes com vítimas fatais”.
Além do que já foi feito em Campo Largo, o acordo de leniência com a CCR Rodonorte prevê novos acessos, viadutos e marginais em Ponta Grossa e Castro, e duplicações na BR 376 (Rodovia do Café) nas cidades de Imbaú, Tibagi e Ortigueira. A previsão é que as demais 13 obras sejam concluídas até novembro deste ano, quando vence os atuais contratos de concessões.
Quatro delas já foram concluídas, contando com a entregue nesta quarta. Em maio, outra interseção de Campo Largo, construída no km 109 para fazer a ligação entre os bairros Cercadinho e São Luiz, entrou em operação. O conjunto recebeu o nome de Viaduto Marcelo Puppi, em homenagem ao prefeito do município, que morreu no início do ano vítima da Covid-19.
Também foram entregues o novo acesso ao município de Piraí do Sul, o chamado Trevo de Brotas, na PR-151, e a duplicação do Contorno Sul de Apucarana, na BR 376, a Rodovia do Café.
“As obras não estavam previstas no contrato, foram selecionadas pela Secretaria de Infraestrutura e validadas pela concessionária, com base nos índices de fluxo e acidentes das rodovias”, destacou Thais. “O Governo do Estado foi fundamental e as obras só aconteceram porque tivemos um apoio extraordinário da secretaria, do DER/PR e do Instituto Água e Terra”.
Lucas Liça
Vivendo no Jardim Guarany por grande parte da vida, Lucas Liça tinha 30 anos quando faleceu em um acidente que envolveu a motocicleta que dirigia e um caminhão. Ele tinha se mudado há pouco tempo para a área central de Campo Largo e retornava de um treinamento, em Curitiba, da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam), batalhão da PM em que trabalhava.
O acidente completou seis anos no último dia 1º de julho. Desde então, amigos e familiares se mobilizaram com passeatas e abaixo-assinados para que se construísse uma interseção que trouxesse mais segurança aos moradores da região.
“Fizemos várias campanhas, tivemos muito apoio e hoje concretizamos o sonho de inaugurar esse viaduto com o nome dele”, contou o irmão da vítima, o advogado Leandro Liça. “O meu irmão tinha participado de muitos movimentos pedindo mais segurança aqui, era algo pelo qual ele também lutava. Era um sonho da comunidade, mas com o acidente dele ficou ainda mais nítida essa necessidade”. (Com assessoria)