Fechar
Quinta, 28 de março de 2024
Quinta, 28 de março de 2024
Destaques 15/07/2020

Entenda o que é o parto humanizado e seus benefícios para mãe e filho

Ouça a notícia Tempo de leitura aprox. --
Entenda o que é o parto humanizado e seus benefícios para mãe e filho

"O termo parto humanizado não é sinônimo de parto na banheira, de parto domiciliar, como muitos pensam. [...] O parto humanizado visa respeitar a individualidade da mulher, suas crenças, suas preferências, sempre respaldado em informações baseadas em evidências científicas", explica a bióloga Caroline Aparecida, que trabalha como doula há três anos.

O primeiro parto: o parto normal

Érika Camargo Custódio é mãe de duas crianças e conta as diferentes experiências que vivenciou no nascimento de seus dois filhos. Em 2014, ela foi até a Maternidade Santana para dar à luz a sua primeira criança.

"Eu saí de lá me sentindo um bicho, não gostava de falar sobre o parto e tinha certeza que tinha algo errado porque aquele tratamento que eu recebi não podia ser considerado normal nem correto", relata Erika.

A primeira vez que Erika pariu, não pode ser acompanhada pelo pai de seu filho, sofreu uma episiotomia [corte na vagina para facilitar a passagem do bebê], que ela descobriu posteriormente ser desnecessária, e que causou consequências em sua vida sexual por aproximadamente dois anos. Ela também relatou que "o tempo todo falavam sobre mim, mas raramente comigo". Erika realizou parto normal, mas com intervenções médicas.

"Pesquisei muito a respeito e achei o termo violência obstétrica, que de acordo com os depoimentos que eu lia e via era o que tinha acontecido comigo", afirma a mãe.

A violência obstétrica 

Violência obstétrica vai desde abusos verbais, aplicação de procedimentos médicos não consentidos, restrição da presença de acompanhante, violência física, e outros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a enfermeira obstétrica Keli Cristina Giraldi, historicamente os partos eram realizados em domicílio, passados de gerações a gerações, e entre mulheres. Ela conta que os crescentes avanços da medicina e com as mudanças sociais que aconteceram ao longo da história, também alteraram a gestação e o parto, que passaram ao domínio da obstetrícia médica, "com isso veio a violência médica".

"Como consequência desta violência, houve um aumento expressivo das cesáreas ou do parto industrializado, com a promessa da diminuição da dor, chegando a alarmantes índices de mais de 80% [de cesáreas] nos hospitais privados do Brasil", afirma a obstétrica.

Segundo parto: o parto humanizado

Quatro anos depois, Érika engravidou outra vez, mas resolveu que buscaria formas alternativas para vivenciar o momento do nascimento. Ela conhecia a doula Caroline, que acompanhou a gestação e o parto de Érika no Hospital Regional.

"Durante a gestação eu e o pai, que foi meu acompanhante, participamos de rodas de gestantes, e rodas de relato de parto. Foi uma ótima experiência [o parto], o oposto do outro. [...] minha bebê não foi arrancada de mim por meio de puxos e com intervenções desnecessárias", explica a Érika.

Parto humanizado e relação horizontalizada

A doula explica que o parto humanizado consiste em uma "relação horizontalizada" entre a mulher que vai parir e os profissionais obstétricos. Segundo ela, isso não significa abrir mão de qualquer intervenção, caso necessário.

"Se o profissional atualizado [com a situação de quem vai parir], assiste a essa mulher, identifica que uma intervenção é realmente necessária, ele oferece opções, esclarece riscos e benefícios e a mulher toma suas decisões", explica Caroline.

A enfermeira obstétrica afirma a ideia de relação horizontalizada quando explica que no parto humanizado é opção da mulher a posição que lhe é mais confortável para parir, aguardar o trabalho de parto acontecer de forma espontânea e segurar e amamentar seu bebê após o parto, a chamada "hora de ouro". Além de expressar seus desejos como incluir ou não a episiotomia, ou qualquer outra intervenção.

Adaptação dos hospitais 

A adaptação dos hospitais para esse modo de parto inclui quartos com equipamentos como bolas, banquetas, músicas ambientes, e óleos essenciais, que são os chamados Métodos não Medicamentosos para Alívio da Dor. Em Ponta Grossa, algumas maternidades passaram a permitir a presença das doulas. A obstétrica afirma que onde foram implantados o parto humanizado, a indução do parto, conhecido popularmente como “sorinho” (ocitocina), ocorre com menos frequência.

"Os partos são apenas assistidos e as equipes apenas estão prontas para agir em caso de necessidade. O nascimento passa a ser uma experiência positiva para mãe e para o bebê", explica a profissional.

No parto, o protagonismo precisa ser sempre da mãe, o que muitas vezes não ocorre quando é realizada  cesárea sem necessidade, muitas vezes contrariando a vontade da mãe.

Indicações de documentários sobre o assunto

  • - O Renascimento do Parto I (Disponível na Netflix)
  • - O Renascimento do Parto II (Disponível na Netflix)
  • - O Renascimento do Parto III (Disponível na Netflix)
  • - Na(ser) Mulher (Disponível no YouTube)

Imagem: Bebê.com.br